A Crise (Albert Einstein)

"Não pretendamos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor bênção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar “superado”. Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais aos problemas do que as soluções. A verdadeira crise, é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios, sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la”.

Filosofia


Prof. José J. F. Lara
 
         Gostaria primeiramente de observar que fui solicitado para uma conversa e não para uma conferência. Isso me deixou muito à vontade, pois, conversa supõe diálogo e o diálogo é como que a casa  da Filosofia,  desde os seus primórdios. Sócrates foi um mestre do diálogo e Platão nos legou “Diálogos”. Pretendo, pois, quanto possível dialogar e não monologar. Peço, assim, que as minhas palavras iniciais sejam encaradas como um convite ao diálogo e não como uma conferência.
 
1.      O que é filosofia? Para que filosofar?
 
No mundo pragmático em que vivemos, a filosofia parece não servir para absolutamente nada. Ela não consta das rubricas orçamentárias, não tem dotação , não recebe verbas específicas... Mal consta dos currículos escolares e os filósofos são, em sua maioria, uns ilustres desempregados...
 
No entanto, ela serve, ou melhor, comanda tudo. Está presente em qualquer decisão séria que tomamos, em qualquer estratégia que implantamos. Pode-se dizer que ela é onipresente. Conforme Jaspers (1977. p.13) a filosofia é imprescindível ao homem. Está sempre presente e manifesta nos provérbios tradicionais, em máximas filosóficas correntes, em condições dominantes, quais sejam, por exemplo, a linguagem e as crenças políticas”.
 
         É interessante notar que as grandes crises históricas foram férteis em pensamento filosófico. Após a grande crise européia conseqüente à invasão dos bárbaros, surgiram as grandes sínteses da Idade Média. A revolução copernicana que deu origem ao mundo moderno fez aparecerem as filosofias  racionalistas. À Segunda Guerra Mundial seguiu-se o existencialismo...Nosso mundo, nosso país estão certamente em crise. Estamos sentados sobre um vulcão que ameaça explodir. E já se esboçam linhas novas de concepção filosófica.
 
           Haverá uma relação necessária entre crise e filosofia? De certo. A crise produz o que os gregos denominavam “thaumásia”, ou seja, admiração, pasmo, espanto que eles apontavam como sendo a origem do pensar filosófico. Jaspers (ib) acrescenta que a consciência do que ele chama “situações-limite” – ter  de morrer, ter de sofrer, ter de lutar, estar sujeito ao acaso e incorrer inelutavelmente em culpa - também nos leva a filosofar. Não será porque esta consciência nos põe  também ela em crise, causando  espanto ou pasmo, a thaumásia dos gregos?
 
 Poderíamos, talvez, dizer que a crise gerando o espanto ou pasmo, torna-nos conscientes de nossa fragilidade física, intelectual, social ou moral, levando-nos a encarar a realidade como um problema na acepção que lhe dá Julián Marías (apud Saviani, l980. p.20) de situação dramática em que se está e não se pode mais continuar, exigindo, assim , uma solução. Ou seja, a crise, transformada em problema, desperta a reflexão ou “ato de retomar, reconsiderar os dados disponíveis, vasculhar numa busca constante de significado” (Saviani, 1980. p 23). Quando esta reflexão se torna, acrescenta Saviani (ib) radical, rigorosa e global ou de conjunto nasce a filosofia.
 
         Ao dizermos reflexão radical, devemos entender a expressão  em seu sentido literal: trata-se de uma reflexão que vá à raiz dos problemas, buscando atingir suas últimas e mais profunda ramificações. Quando dizemos que a reflexão deve ser rigorosa, entendemo-la como sistemática e metódica. A reflexão deve ser ainda global ou de conjunto, isto é, realizada de modo a abarcar todos os dados, de modo a não deixar escapar nenhum fio condutor no difícil trabalho de discernir no emaranhado das raízes as imbricações fundamentais.
 
         Resumindo, podemos com Saviani (1980. p.27) afirmar que a filosofia é uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta”.
 
 
Já se vê que a filosofia é, antes de mais nada, uma atitude e uma tarefa das quais resultam “filosofias” como produto. Atitude ou disposição de amor à verdade, que supõe, sobretudo, muita humildade e nenhuma arrogância de espírito, como afirma Jaspers (1977. p 14), ao explicar o significado, a um tempo etimológico e histórico,  do termo: A palavra grega ‘philósophos’ foi formada em oposição a ‘sophós’ e significa “o que ama o saber”, em contraposição a ao possuidor de conhecimentos  (dono da verdade) que se designava por sábio. Este sentido da palavra manteve-se até hoje: é a demanda da verdade e não a sua posse que constitui a essência da filosofia...”
          
Das crises, portanto, surgem as filosofias como fruto da necessidade humana de compreender a realidade e de fundamentar a ação que visa a transformá-la.
 
 Será a filosofia algo de intermitente, que apenas de vez em quando desponta ao longo da história? Não, pois a história é - e cada vez mais - uma longa e funda  crise na qual há, certamente, períodos mais dolorosos e enfáticos, mas que por sua contínua e surpreendente novidade  está sempre a nos chocar, suscitando-nos, em conseqüência, uma atitude constante de reflexão e de busca. A filosofia é, assim, onipresente, pois, se  ninguém escapa ao mundo e à história, ninguém, a não ser por demência, escapa  à crise: “Não se pode fugir à filosofia. Pode-se perguntar apenas se ela é consciente ou inconsciente, boa ou má, confusa ou clara. Quem recusa a filosofia está realizando um ato filosófico de que não tem consciência” (Jaspers, 1977. p.13).
          
A afirmação final de Jaspers não faz mais que atualizar o velho argumento aristotélico: “Ou se deve filosofar, ou não se deve filosofar. Se não se deve filosofar, isto só em nome de uma filosofia. Portanto, mesmo que não se deva filosofar, deve-se filosofar(cf. Bochenski, 1973. p. 23).
        
“Me philosophetéon, philosophetéon”, declarava Aristóteles: mesmo que não se deva filosofar, deve-se filosofar. Não há  como fugir à filosofia. É verdade que nem todos têm condições de estabelecer uma reflexão que vá até as raízes, que siga com rigor um método, que possua todos os dados necessários a uma visão de conjunto da realidade, sobretudo se considerarmos que esses dados se avolumam e complexificam, à medida que avançam as ciências. Todos tentam, entretanto, consciente ou inconscientemente, com os recursos de que dispõem, com as informações que têm à mão, dar uma resposta aos problemas fundamentais, explicar as “situações-limite”, dar um sentido à vida e à realidade: todos, de algum modo, filosofam.
          
         Uma observação final  deve ser ainda  acrescentada: “Filosofar significa estar a caminho. As interrogações são mais importantes que as respostas e cada resposta se transforma em nova interrogação” (Jaspers, 1977. p 14). A filosofia é aberta, por mais que o filósofo pretenda dar respostas definitivas. A realidade é rebelde e não se deixa apanhar com facilidade em nossas redes de compreensão. É por demais complexa e dinâmica para que possamos emitir sobre ela uma palavra definitiva. Nem sempre – e isso ocorre com freqüência – consideramos todos os dados disponíveis ou  escolhemos as informações capazes de nos conduzirem à raiz mestra dos problemas ou das crises. Ou, então, quando parece que a atingimos, damo-nos conta de que ainda estamos na superfície e de que é necessário cavar mais fundo: “cada resposta se transforma em nova interrogação”. Não importa o esforço! É melhor seguir que estagnar. Além disso, não caminhamos sozinhos. O que não descobrimos, outros descobrem ou descobrirão e nossas chamas juntas tornarão o mundo, se não transparente, pelo menos mais claro!
 
         A filosofia é, pois, imprescindível. Não serve para nada e serve para tudo. Não há como negá-la: ela se impõe por si mesma!  Refugá-la, só deixando de ser o que somos: consciências que refletem num mundo em permanente crise, num constante devir.
 
  
II – Para que Filosofia da Educação?
 
         Talvez seja mais pertinente perguntar: para que filosofia na educação? A resposta é simples: porque educação é, afinal de contas, o próprio “tornar-se homem” de cada homem num mundo em crise.
 
         Não há como educar fora do mundo. Nenhum educador, nenhuma instituição educacional pode colocar-se à margem do mundo, encarapitando-se numa torre de marfim. A educação, de qualquer modo que a entendamos, sofrerá necessariamente o impacto dos problemas da realidade em que acontece, sob pena de não ser educação. Em função dos problemas existentes na realidade é que surgem os problemas educacionais, tanto mais complexos quanto mais incidem na educação todas as variáveis que determinam uma situação. Deste modo, a “Filosofia na educação” transforma-se em “Filosofia da Educação” enquanto reflexão rigorosa, radical e global ou de conjunto sobre os problemas educacionais. De fato, os problemas educacionais envolvem sempre os problemas da própria realidade. A Filosofia da Educação apenas não os considera em si mesmos, mas enquanto imbricados no contexto educativo.
 
         Penso que disto decorrem duas conseqüências muito simples, óbvias até! A primeira é que todo educador deve filosofar. Melhor ainda, filosofa sempre, queira ou não, tenha ou não consciência do fato. Só que nem sempre filosofa bem. A este respeito afirma Kneller (1972. p. 146): “se um professor ou líder educacional não tiver uma filosofia da educação, dificilmente chegará a algum lugar. Um educador superficial pode ser bom ou mau. Se for bom, é menos bom do que poderia ser e, se for mau, será pior do que precisava ser”.
 
         Que problemas no campo da educação exigem de nós  uma reflexão filosófica, nos termos acima explicitados? São muitos. Permitam-me apontar apenas alguns.
 
         Já que a educação é o processo de tornar-se homem de cada homem, é necessário refletir sobre o homem para que se possa saber o “para onde” se deve orientar a educação. É necessário, porém, que esta reflexão não seja unicamente teórica, abstrata, desencarnada. É preciso levar em conta a situação espácio-temporal em que ocorre o processo. Com efeito, não importa apenas o “tornar-se homem”, mas o “tornar-se homem hoje no Brasil”. Só desta forma podemos estabelecer com clareza o que, por exemplo, se tem convencionalmente chamado de “marco referencial”, a partir do qual, numa instituição educativa, currículo, planejamento e atividades podem atingir um mínimo de coerência e de eficiência. 
          
         Que teoria de aprendizagem adotar? Que métodos e técnicas utilizar? Já afirmavam Binet e Simon  correr  “o risco de um cego empirismo quem se conforma em aplicar um método pedagógico sem investigar a doutrina que lhe serve de alma”. Não há métodos neutros. Não há técnicas neutras. No bojo de qualquer teoria, de qualquer método, de qualquer técnica está implícita uma visão de homem e de mundo, uma filosofia. 
 
         A filosofia é, assim, norteadora de todo o processo educativo. O maior problema educacional brasileiro sempre foi e ainda  é, a meu ver, o denunciado por Anísio Teixeira no título de uma de suas obras principais: “Valores proclamados e valores reais na educação brasileira”. Quer em nível de sistema, quer em nível de escola, proclamamos  belíssimos princípios filosófico-educacionais. Na prática, entretanto, caminhamos ao sabor das ideologias e das novidades e – o que é pior – sem nos darmos conta da incoerência existente entre nossas palavras e nossos atos.
 
         A segunda conseqüência a ser tirada do que antes dissemos é que também o educando deve filosofar, ou seja, deve refletir sistematicamente, buscando as raízes dos  problemas - seus e  de seu tempo -  de modo a formar uma “visão de mundo” e adquirir criticamente princípios e valores que lhe orientem  a vida.  Só assim serão homens e não robôs. É preciso, pois, municiá-lo de instrumentos racionais e afetivos  para que se habitue a ser crítico, a não se contentar com qualquer resposta, a colocar sempre e em tudo uma pitada razoável de dúvida, a cavar fundo e não se intimidar perante a tarefa ingrata de estar sempre questionando e se questionando.
 
 A partir de minha já longa experiência de magistério, posso  afirmar que há sempre fome de filosofia. Basta levantar um problema nos termos acima descritos para que se alcem  as antenas, sobretudo as juvenis!  Talvez porque, tendo uma percepção não muito  nítida, mas agudamente sentida  da crise,  faltem aos jovens  o instrumental necessário  para explicitá-la,  analisá-la e julgá-la, em razão do banimento  a que assistimos da filosofia,  até mesmo de nossos currículos escolares.
 
Conclusão
 
         Não há, portanto, como fugir à filosofia no campo da educação. Ela se relaciona intimamente  com a função nem sempre levada a sério e, não obstante, fundamental, de avaliar. De fato, a avaliação  resume, de certo modo, ou acompanha, como um  vetor ou como um eixo orientador, todo o processo educacional. Ela se faz presente no início do processo, ao estabelecermos as metas; no seu decurso, quando traçamos e executamos as estratégias; no final, quando julgamos o que e quanto foi cumprido. Ora, avaliar é emitir juízos de valor e estes implicam sempre, queiramos ou não, consciente ou inconscientemente uma posição filosófica, uma filosofia.
 
 Uma palavra, talvez, resuma tudo o que tentamos dizer: a filosofia é o aval da educação!
 
         Referências bibliográficas  
 
BOCHENSKI, J. M. Diretrizes do pensamento filosófico. São Paulo: EPU, 1973. 119 p.
JASPERS, Karl. Iniciação filosófica. Lisboa: Guimarães, 1977. 173 p.
SAVIANI, Dermeval. Educação; do senso comum  à  consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1980. 224 p.
KNELLER, Georges. Introdução à filosofia da educação. 4.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. 167 p.
 
 Extraído de  Estudos Leopoldenses, São Leopoldo, v. 21, n. 85, p. 29-36. Revisado e modificado pelo autor em 18/02/2001

Educação na era planetária




Edgar Morin 
Conferência na Universidade São Marcos
São Paulo, Brasil, 2005
Fonte: http://www.edgarmorin.org.br

- Educar para a era planetária significa que devemos nos questionar para saber se nosso sistema educacional está baseado na separação dos conhecimentos. Conhecimentos estes que as disciplinas separam, e não somente elas as separam, como tampouco comunicam. Nós aprendemos a analisar, a separar, mas não aprendemos a relacionar, a fazer com que as coisas comuniquem. Ou seja, o tecido comum que une os diferentes aspectos dos conhecimentos em cada disciplina se torna completamente invisível; ora, existe um tecido comum, mesmo que você estude economia. A economia é uma ciência extremamente precisa, baseada no cálculo. O cálculo ignora os sentimentos, as paixões humanas; além do mais, a visão puramente econômica ignora o fato de que não há só economia na economia, há também desejo, medo, crença, política. Tudo está ligado, não só na realidade humana, como também na realidade planetária. Portanto, podemos imaginar que nosso sistema educacional é inadequado. Vejam a palavra “complexidade”. Ela vem do latim complexus, “aquilo que é tecido”. Vemos, então, que nosso sistema educacional nos torna incapazes de conceber a complexidade, isto é, as inumeráveis ligações entre os diferentes aspectos dos conhecimentos. Isto é mais grave hoje, porque a época planetária se manifesta através de uma extrema interação entre fatores diversos: econômicos, religiosos, políticos, étnicos, demográficos etc. Fica mais difícil entender esta época em que o local é separável do global e o global influi sobre o local. Eu diria até que nós não percebemos que nossa vida cotidiana de indivíduo é determinada pela era planetária, que começou com a conquista das Américas, a partir de 1492, e com a navegação portuguesa pelo globo no final do século 15. A era planetária começou no início do século 16. Aqui no Brasil, por exemplo, nós ignoramos que o café, um produto tipicamente brasileiro, vem do sul da Arábia, do Iêmem. Ele se expandiu pelo império Otomano durante os séculos 13, 14, 15 e quando os turcos chegaram às portas de Viena, no século 16, eles trouxeram o café para o Ocidente. Daí o café foi transplantado para a Colômbia, o Brasil, o Venezuela, ou seja, para a América Latina. Coisas tão banais como o cavalo, que foi importado da Europa, assim como o boi, o trigo. Em compensação, na Europa estamos convencidos de que o tomate é um produto típico do Mediterrâneo, mas ele veio das Américas, como o milho também. É dizer que a era planetária começou no século 16. E hoje ela é cada vez mais forte, mais intensa. E nós devemos conhecê-la, para saber quem somos e para onde o mundo, a humanidade estão indo. O que supõe que nós nos questionemos sobre a humanidade, sobre as relações entre os humanos, sobre o conhecimento. E por que isto? Porque, curiosamente, se ensinam conhecimentos, mas nunca o que é o conhecimento. Ora, sempre há no conhecimento um risco de erro, de ilusão. Aliás, muitos conhecimentos que no passado achávamos certos, hoje os consideramos errados, ilusórios; muitas idéias que no século 20 nos pareciam justas foram abandonadas. Portanto, há sempre uma margem de erro, de ilusão, que repousa na natureza mesmo do conhecimento. Por que isso? Porque a percepção que tenho do mundo exterior não é uma fotografia do mundo exterior pelos meus olhos; os estímulos luminosos que atingem meus olhos, minhas retinas, são traduzidos por uma infinidade de células em sinais binários que são transportados, então, pelo nervo óptico até o cérebro, onde se tornam uma percepção. Ou seja, qualquer conhecimento não passa de uma tradução, de uma reconstrução. E este fato vale também para o conhecimento teórico, pois as idéias, as palavras também são traduções, reconstruções. A prova que minha percepção não é uma fotografia é o fenômeno conhecido como “constância perceptiva”: assim, mesmo que na minha retina a imagem das pessoas que se encontram no fundo da sala seja pequena e a das pessoas que estão na primeira fila seja grande, jamais vou ver as pessoas do fundo da sala como anões e as da primeira fila como gigantes. Automaticamente, sem que eu esteja consciente disso, restabeleço o tamanho real das pessoas ainda que a imagem visual que tenho delas seja diferente nos meus olhos. No entanto, este fenômeno existe e faz com que sempre corramos o risco de errar na interpretação e os erros vão se multiplicando com as idéias, com as teorias tanto que nossos conhecimentos sofrem do fenômeno psicológico que os ingleses chamam de self deception, ou seja, “mentir a si mesmo”. Freqüentemente nós mentimos para nós mesmos e sequer o percebemos. Transformamos nossas lembranças, esquecemos aquelas que nos incomodam, embelezamos as ruins; o fenômeno da self deception é absolutamente cotidiano.

Então, além do erro, há uma fonte psicológica e também uma fonte cultural, pois desde criança lidamos com o que chamo a unprainting cultural, que é a marca da cultura através não só da linguagem, como das idéias fortes, das crenças. Em geral, quando a marca de uma cultura é muito forte,
ela impede que as idéias diferentes, não conformes a ela, se exprimam. Há um fenômeno que podemos chamar de normalização, ou seja, tudo aquilo que não é normal é afastado e há também um processo de eliminação de tudo que parece ser desviante. Portanto, quando estamos numa sociedade pluralista em que tal normalização não chega a ser tão massiva, mas que perdura assim mesmo, inclusive no meio cientifico, há uma tendência em ver-se certos dogmas se consolidarem e durarem. É, por exemplo, o problema da marca cultural ou, mais profundamente ainda, o problema do que podemos chamar os “paradigmas”, isto é, os princípios que organizam o conhecimento de uma forma sobre a qual estamos inconscientes. Falando do sistema educacional, um paradigma que chamaremos “simplificação” domina nosso ensino, em que para conhecer nós separamos, reduzimos o que é complexo a simples. Tal visão mutila nosso conhecimento. O problema, então, é conseguirmos obedecer a um paradigma que possibilite diferenciar e ao mesmo tempo relacionar. E justamente o paradigma que domina o conhecimento na nossa civilização e na nossa sociedade é um paradigma que impede o conhecimento complexo, o conhecimento da era planetária.

E, enfim, existe outro obstáculo ao conhecimento que tentei levantar no livro O método, que trata do tema da possessão pelas idéias. Nós pensamos ter idéias que utilizamos para conhecer, o que é certo, porém, isto é apenas um dos aspectos da realidade. Na verdade, as idéias que surgem numa comunidade tomam força e energia. Não somos sós nós que as possuímos, elas também nos possuem. Isso é verdade no que diz respeito aos deuses, às religiões: é verdade que a fé de uma comunidade cria os deuses. Mas esses deuses, uma vez que existem, têm um poder enorme, eles nos obrigam a nos ajoelhar diante eles, a suplicá-los, eles nos dão ordens, pedem que façamos sacrifícios, podem até pedir que sacrifiquemos nossa própria vida. E o que é verdade para os deuses, vale também para as idéias, o que chamamos de ideologia. Podemos morrer, matar por uma idéia. Isso já aconteceu e isso voltará a acontecer. Então, como não ser possuído por estas idéias?

Como manter uma relação civilizada? Como controlar as idéias? Porque só podemos lutar contra essas idéias com outras idéias. E como ter idéias em uma escala humana? Então, temos todos estes problemas juntos, que nos mostram que a questão do conhecimento, ou seja, de
conhecer o conhecimento não pode ser algo reservado a uma elite de estudiosos da epistemologia, confinados num ensino restrito, filosófico. É algo que deve começar no ensino primário e prosseguir no ensino secundário, e continuar na universidade.

Além do mais, há outro aspecto no conhecimento que é a pertinência. Um conhecimento pertinente não é um conhecimento sofisticado, ou fundado sobre cálculos rigorosos. Um conhecimento pertinente é aquele que permite situar as informações que recebemos no seu contexto geográfico, cultural, social, histórico. É claro que estamos permanentemente aprendendo nomes de lugares, de países que desconhecemos, como foi o caso com o Timor Leste ou o Kosovo e as informações que recebemos, por exemplo, sobre acontecimentos como um tsunami, ou um terremoto no Paquistão, não significam nada se não conhecemos a geografia e também a história, a cultura, ou seja,
precisamos contextualizar e situar um conhecimento peculiar no conjunto global a que ele pertence. Então, é certo que o ensino de uma disciplina isolada atrofia a aptidão natural da mente a contextualizar os conhecimentos. Como já falei, as ciências baseadas unicamente no cálculo ignoram a humanidade dos sentimentos e da vida concreta. É por isso também que não devemos pensar que o melhor conhecimento é aquele que se exprime através do cálculo. Devemos usar o cálculo, mas existem outros modos que escapam ao cálculo e que nos são necessários. Então, o contexto situa uma parte dentro da totalidade em que ela está inserida, mas também o todo numa parte. Porque na complexidade não há só partes que constituem o todo, há também o todo na parte. Por exemplo: enquanto organismo, sou feito de células diferentes e de células que constituem minha pele. Cada célula contém a totalidade de meu patrimônio genético, mas, claro, a maior parte deste patrimônio está inibido e só aquela que diz respeito a minha pele se exprime.

Mas hoje nós sabemos que podemos, com uma única célula, em boas condições, estimular este patrimônio e criar um clone meu. Em outras palavras, não somente a célula é uma parte do meu organismo todo como a totalidade do meu organismo se encontra numa única célula minha. Outrossim, cada um de nós é uma pequena parte da sociedade, mas a sociedade, como um todo, se encontra em cada indivíduo através da linguagem, da cultura, da família. Ou seja, a relação “tudo é parte” é muito complexa e assim como eu disse no início dessa conferência somos indivíduos no planeta, mas na realidade o planeta está em cada um de nós, o que torna mais importante ainda a necessidade de conhecer a era planetária. Por isso, no meu trabalho sobre o método procurei elaborar instrumentos de pensamento que nos permitam ligar os conhecimentos, para que possamos relacionar o conhecimento da parte e do todo dentro do que chamei “princípio do holograma”, pois no holograma uma pequena parte singular contém a totalidade do que está representado. Mas não vou desenvolver este aspecto, seria muito demorado.

Quero dizer simplesmente que com o “princípio do holograma”, com a idéia da recursão, da dialógica, tentei elaborar instrumentos para pensar, sem os quais não podemos entender a complexidade do real, isto é, a complexidade da era planetária.

Isto dito, o que é a era planetária? É uma era em que todos os seres humanos se encontram unidos numa espécie de comunidade do destino cada vez maior. Mas então surge algo mais importante ainda para o conhecimento, que é saber o que é “ser humano”? O que é a identidade humana? O que é a condição humana? Percebemos que
tudo isso é completamente ignorado no nosso sistema educacional. Existem as ciências humanas, mas elas são separadas umas das outras e se comunicam muito mal: a história, a sociologia, a psicologia, a ecologia, a demografia, a economia são vizinhas, mas não se comunicam. Por outro lado, a realidade humana não reside só nas ciências humanas, ela se encontra também nas ciências biológicas uma vez que nós não somos unicamente animais, mas somos também animais. Sabemos que 98% de nosso genótipo é idêntico ao do chimpanzé. A diferença é que ele se organiza de outra maneira. Somos animais como os outros animais, temos um cérebro, um fígado, um baço, um coração, em suma, fazemos parte do mundo da vida e somos não só seres vivos, não só primatas e mamíferos, somos também máquinas, máquinas psico-químicas. Meu organismo funciona a 37°, ele é uma máquina térmica que gasta energia e produz calor. Por isso precisa se alimentar para recuperar energia. Mas sabemos que somos feitos de elementos psico-químicos cujos mais elementares se formaram praticamente ao mesmo tempo que o universo, nas partículas que surgiram há 15 bilhões de anos; sabemos que os átomos de carbono surgiram num sol anterior ao nosso, que as moléculas que se uniram para formar o ser humano se juntaram na Terra; em suma, não se pode destacar os seres humanos da aventura cósmica e da aventura da vida. Claro que somos diferentes pela consciência, pela cultura, pelo pensamento, mas somos ao mesmo tempo animais e, mais do que animais, somos seres vivos e mais do que seres vivos - e é esta realidade que precisamos entender hoje principalmente, porque a ignoramos antes. Por termos ignorado essa realidade, as forças técnicas enfureceram-se sobre o planeta, provocando hoje um problema de degradação das condições da biosfera que vai ameaçar nossa própria existência nos próximos dez anos.

Pensando conquistar e dominar o mundo nos atiramos numa aventura que está nos levando à destruição. Precisamos sentir até que ponto devemos não nos reduzir a seres naturais, mas mostrar nossa condição de ser natural e nossa condição específica de ser humano. Isso faz parte da condição humana e a condição humana é o quê? Somos triplos, uma espécie de trindade humana: indivíduos, uma espécie e membros de uma sociedade, três coisas absolutamente inseparáveis porque, por exemplo, como indivíduos somos o produto da reprodução sexual; para que a reprodução da espécie continue, é necessário que dois indivíduos se acasalem, ou seja, a espécie produz os indivíduos que produzem a espécie; nós, indivíduos, produzimos a sociedade por nossas interações, mas a sociedade, com sua cultura, nos transforma em indivíduo plenamente humano. A sociedade produz o indivíduo que produz a sociedade. Esse laço fundamental entre esses três aspectos, que tendemos a dissociar, é indispensável ensinar, o que não ocorre. Por outro lado, a maneira como pensamos nos torna incapazes de conceber ao mesmo tempo a unidade e a diversidade humana, o que faz com que a unidade humana, que é genética, anatômica, cerebral e afetiva, seja incontestável, mas aqueles que enxergam a unidade não vêem a diversidade; e quem vê as diversidades humanas, as diferenças entre os indivíduos, entre as raças, entre as culturas, entre as línguas, passam a não perceber a unidade, quando é necessário ver ambas as coisas. É isso, a meu ver, a complexidade: uma unidade que produz a diversidade. Por exemplo, dizemos que o que é específico da humanidade é a cultura, ou seja, a linguagem, o saber que se transmite etc. Certo, mas nunca percebemos a cultura que conhecemos pelo prisma das outras culturas; o que caracteriza o ser humano é a linguagem, certo, mas a linguagem não existe, ela só existe através das línguas que diferem umas das outras. Todas as sociedades possuem sua música, mas a música em si não existe. Conhecemos a música através das músicas. E preciso ser capaz de pensar a unidade e a diversidade, isso é capital. Por quê? Porque hoje o que é que está sendo ameaçado é a espécie humana enquanto unidade, porque existem enormes riscos para a biosfera, riscos de tipo nuclear, com as armas de destruição massiva; riscos de uma nova guerra, que ameaçam acabar com a espécie humana; então a humanidade está ameaçada enquanto espécie. Mas ao mesmo tempo o processo de unificação ameaça as diversidades culturais. Hoje há uma tendência para a homogeneização. É preciso querer salvar, preservar as diversidades culturais que são uma riqueza para a humanidade. Portanto, devemos proteger a unidade e a diversidade e se não tomarmos consciência disso estaremos cegos, cegos se protegermos a diversidade local sem levar em conta o interesse de todos, ou se pelo contrário protegermos uma humanidade abstrata sem levar em conta as realidades concretas que são diversas. Além do mais, a condição humana é prisioneira de uma visão muito restrita da nossa concepção do homo spiens, do homo faber, do homo economicus. Homo sapiens significa o homem como ser racional; o homo faber é o homem que cria técnicas e o homo econimicus é o homem que age em função de seu interesse econômico pessoal. É verdade que o homem é racional, ele desenvolveu a racionalidade, mas ao mesmo tempo criou a loucura, o delírio. Eu digo que o homo sapiens é ao mesmo tempo o homo demens, capaz das maiores loucuras, até as mais criminosas, as mais insensatas. Não se pode separar os dois, porque entre os dois circula a afetividade, o sentimento, não existe racionalidade pura, até o matemático completamente dedicado à racionalidade matemática o faz com paixão.



Os Indiferentes

Antonio Gramsci


11 de Fevereiro de 1917

 

Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.
Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.




Primeira Edição: La Città Futura, 11-2-1917
Origem da presente Transcrição:
Texto retirado do livro Convite à Leitura de Gramsci"
Tradução:
Pedro Celso Uchôa Cavalcanti.
Transcrição de:
Alexandre Linares para o Marxists Internet Archive
HTML de:
Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução:
Marxists Internet Archive (marxists.org), 2005. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License

Indústria Cultural



Como educadores devemos estimular o desenvolvimento da criticidade de nossos educandos visando uma sociedade que não seja alienada e manipulada pela mídia.


Por falta de informação e orientação, as pessoas se deixam levar pela moda das novelas, inclusive moda de condutas morais. Vejamos o exemplo, como as novelas tratam do tema "traição", que é camuflado como se fosse uma aventura, o amante passou a ser chamado de "um novo amor". Com isso, a sociedade perde boas referências sobre a constituição familiar e sobre os bons valores de "antigamente". As pessoas encaram certas coisas como algo moderno, as crianças "pulam" etapas importantes da sua infância, querem se tornar "miniadultos", vestem-se como adultos, consomem como adultos e ainda conhecem à sexualidade cada vez mais cedo. Tudo isso, porque são alvos fáceis de serem manipulados.

A sociedade deve se conscientizar de que deve buscar sempre o conhecimento e não se deixar levar pela manipulação dos vários tipos de mídia da Indústria Cultural. Não há milagre para quem é consciente e deseja "salvar" a humanidade, mas se cada um já fizer o seu papel será um avanço. Até mesmo numa conversa entre amigos, onde todos estão mais interessados em saber quem será o próximo eliminado da "Fazenda" ou "Big Brother", do que saber as medidas que estão sendo tomadas na área da Economia, ou da Educação, medidas essas que vão atingir o seu bolso ou o futuro dos seus filhos. Numa situação como essas se há uma pessoa que muda o rumo da conversa, já vai despertar nos outros que são "alienados" uma "pulga atrás da orelha" e quem sabe um dia eles acordam para a realidade e vejam o quão fúteis foram maior parte da sua vida".
 
*Escrevi este texto para um fórum da aula on-line de Sociologia, cabe perfeitamente no poema a seguir:
O Analfabeto Político
 Bertolt Brecht
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Desperdício

Sil Oliveira

Me entristece ver pessoas com grande potencial em transformar a sociedade através do seu ofício escolherem profissões não coerentes com suas capacidades de reflexão sobre o mundo.
Vejo vários ex-futuros sociológos, filósofos, acabarem optando por profissões que visam apenas o lucro.
E o que acontece com seu dom ou sua missão no mundo? Tranforma-se em frustração.
Chegará o momento em que não encontrará sentido para o seu trabalho e se questionará o porquê não seguiu sua verdadeira vocação.
Alguém já parou para pensar porque um engenheiro ganha muito mais do que um professor da educação infantil sendo que foi este o responsável por ensinar o engenheiro a ler, fazer cálculos, pois ninguém nasce pronto,
há necessidade de um mediador para que o aprendizado seja possível.
Na Europa, é exigido doutorado para lecionar na Educação Infantil, enquanto que no Brasil, ainda há os que se dizem educadores sem se quer o antigo magistério. Sim, a lei mudou e agora exige ensino superior para os professores, porém ainda há muitos que resistem e ainda não descobriram a importância de buscar o conhecimento científico através do Ensino Superior. Na minha experiência no estágio em Educação Infantil, observei que muitas professoras optaram por cursos à distância visando economia de tempo e esforço.
Parece que se impregnou à cultura popular os dizeres "professor ganha muito mal", "lecionar é uma profissão sofrida", "não há reconhecimento em ser professor".
O sálario baixo do professor é uma estratégia para que este tenha pouco recurso para se desenvolver e a sociedade continue com essa distância entre os que tem poder e os que tentam sobreviver.
Não podemos aceitar que nossos melhores pensadores, filósofos e educadores continuem migrando para outras profissões que fogem dos seus ideais e trocam seu capital intelectual por um salário que é uma parte insignificante do lucro que ele colaborou para o sistema do Capitalismo.



Dedicatória

Dedico este blog às pessoas buscadoras de conhecimento, 
àquelas que possuem uma curiosidade aguçada, lutadoras por um mundo melhor.
Dedico também aos inconformados, aos revoltados, aos incompreendidos, 
aos "fazedores" de política, aos filósofos, sociológos, professores, 
enfim profissionais que não trabalham apenas por dinheiro, mas também
afim de cumprir sua missão neste mundo.
Espero contribuir com um pouco de reflexão para a Leitura do Mundo.

"A leitura do mundo precede a leitura da palavra". (Paulo Freire)

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